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2010-08-27

Because it's breaking my heart

Minha mãe sempre diz que a gente não deve ser feliz em cima da infelicidade dos outros. Isso é justamente o que eu não quero que pensem que eu faço, porque, well,  não é.

Sabe, eu não posso fingir que não foi bom ter conseguido aquilo que eu vinha tentando já há algum tempo, que é esse tipo de "liberdade" que estou sentindo agora. Coloquei entre aspas porque existem várias liberdades. Tem aquela que você sente quando seus pais te deixam ir a uma festa, tem aquela que você sente quando se forma, tem aquela que você sente quando pode resolver a sua própria vida, etc, e todas elas fazem parte de um todo. 

Mas, enfim, não estou aqui pra falar das minhas teorias sobre liberdade.

Estou aqui só pra dizer que não vou rasgar cartas, tripudiar ou negar o nosso curto (porém intenso) passado, entre outras coisas. Só pra dizer que o que eu queria de verdade era ter de volta aquela leveza, sabe? Aquele poder ir e vir, pensar e não-pensar, rir e não-rir, olhar e não-olhar.. Eu só queria não ter de novo aquela apatia que, aparentemente, está indo embora. Queria poder sentir a minha vida de novo nas minhas mãos, não porque elas estivessem em outras mãos, mas simplesmente porque às vezes a gente deixa de dar importância às coisas que realmente fazem falta e vamos nos desligando... Eu só queria aquele pedacinho do meu ego que tinha ido embora. 

É claro que eu não esperava que tudo corresse lindo e maravilhosamente bem. Sei que não está correndo, porque existem marcas, em ambos os lados. Boas e ruins. Nesse momento em particular, talvez as boas doam mais, porque - numa situação ideal - são as lembranças que ficam quando todas as outras vão embora. 

(É assim que eu funciono, sabe? Vou me dando conta das coisas que eu sinto enquanto escrevo. Me faz bem. Agora, por exemplo, eu sei que não estou fingindo estar feliz nem triste, estou apenas vivendo. O tempo é o seu melhor amigo, eu costumava me dizer quando era mais paciente. Talvez eu possa voltar a ser.)

Estou re-aprendendo a viver do jeito que eu vivia antes. Assim como você, espero. Sabe, vindo de mim isso pode ser meio unbelievable, mas eu gosto muito de te ver voltando a andar com os teus amigos de antes. Porque, como eu disse, é a nossa fase de re-adaptação. Aqui estamos nós, nos re-inserindo no mundo como indivíduos, e não como uma pessoa só. Descentralizando os laços.

(E essa sou eu, fazendo piada no ponto de ônibus, tropeçando em tudo quanto é batente, dizendo as coisas mais idiotas do mundo e exagerando tudo mesmo no meio da maior de todas crises do universo (viram? isso foi uma tentativa de fazer gracinha. /tenho probleminha.) Essa não sou eu construindo minha felicidade na infelicidade alheia (até porque eu realmente quero que todo mundo fique bem), ou coisa do tipo. Sou só eu, como não posso evitar de ser.)

2010-08-22

Geronimo!

Eu poderia estar estudando pra prova de Engenharia de Software, tomando café, chorando as pitangas da minha mal fadada vida amorosa, mas não. Estou escrevendo sobre Doctor Who, porque o Doctor é divo, o Doctor é terapia, o Doctor é vida.

(e, pra você ver como a minha credibilidade tem problemas, há alguns meses eu falava a mesma coisa de Lost. Mas, né.)

Terminei de assistir a quinta temporada semana passada, e agora não tenho mais nada pra fazer na minha vida de fangirl. Bom, na verdade eu posso assistir a série clássica (as milhões de temporadas do anos 60 aos 80), mas estou esperando chegar o nível de abstinência mais crítico pra começar a baixar, ou seja, em algum ponto entre as vésperas do especial de Natal e os spoilers da sexta temporada.

É nessas horas que me dá saudade de Torchwood, mas não posso reassistir ainda, preciso de preparo psicológico pra deprimir de novo (q?). Por enquanto, vou reassistindo a terceira temporada de Doctor Who mesmo.

Mas, então, vamos ao que interessa (ou não): o que eu achei da quinta temporada, sem spoilers (eu acho).

Depois de muito enrolar e finalmente assistir The End of Time, que partiu meu coração milhares de vezes onde não há peças para reposição, fiquei com o sentimento do fim da primeira temporada aumentado mil vezes: não queria que o Tennant saísse DE JEITO NENHUM, e procurei todos os defeitos do universo para pôr no Eleven.


Motivos idiotas (e alguns nem tanto) que eu encontrei para odiar o Eleven no começo da temporada: 
  • Seu nariz batatudo em desarmonia com o rosto de ídolo teen.
  • Seu rosto de ídolo teen.
  • Suas tentativas toscas de fazer lembrar os trejeitos do Ten.
  • Sua completa inabilidade em tornar crível e dramático o velho discurso de “I’m the last of the Time Lords”.
  • Sua chave de fenda sônica (não lembro o nome em inglês dessa porra) toda moderninha e *calafrios* com luzinha verde.
  • Seu jeitinho meio caricato.
  • Sua modernice.
  • Sua gravata borboleta saída diretamente do inferno das gravatas borboletas.
Entre outras coisas.

Então, por essa lista você já pode refletir sobre a que ponto eu cheguei pra não gostar do Eleven. Mas essa é a lista bobinha. A lista séria é outra. A lista séria é poderosa. A lista séria não tem pra ninguém. A lista séria é:

Motivos para não gostar do Eleven: 
  • Ele não é o Ten.

Isso define.

Mas, então, eu gostei da quinta temporada de DW, e terminei até achando que gravatas borboletas são sim um tantinho ~cool~. Não tão cool quanto no Ten vestido pra matar (de amores), mas que se há de fazer?


No geral, é uma temporada muito boa e que deu um salto de qualidade técnica em relação às outras. Seria até injustiça compará-la com a tosquíssima primeira temporada, por exemplo. Só que, pra você ver como as coisas são, isso é justamente o grande problema. Doctor Who, pra mim, não é pra ser tão bom (tecnicamente falando). Sinto falta da tosquice original, dos efeitos propositalmente mal-feitos (que ainda existem na quinta, mas muito menos), da abertura igualmente tosca digna do início dos anos 2000, da musiquinha sem aqueles efeitozinhos modernosos...

Ai, ai.

Nos bons tempos das vacas toscas (eu disse mesmo isso?), Doctor Who não precisava se basear apenas no visual para ser uma série maravilhosa. Mas, calma, não estou dizendo que isso está acontecendo. Não ainda, mas né, vai que acontece um dia? Já vi um monte de gente dizendo que a série já perdeu a identidade e que não vai mais assistir e etc, e acho isso um exagero, não é pra tanto. Vou continuar assistindo e amando, mesmo que, bem, tenha realmente perdido um pouco daquele tom que eu gostava tanto.

E, sobre o Eleven, até que eu comecei a gostar mais dele do meio pro fim da temporada. Ele é legal, saltitante e meio despreocupado, realmente jovem, e eu já estava acostumada com um Tennant amargurado no auge de sua crise dos 900 e poucos anos. Ah, e o sotaque dele é mais carregado, e isso é amor.


E nem falei da Amy, coitada. Ela é uma fofa mesmo, principalmente quando era criança, mas ainda não puxo muito o saco dela não. Rory é quem tem meu coração (L)


Um beijo pra quem não entendeu porra nenhuma e leu mesmo assim. 

2010-08-21

Sobre ser fucking selfish

Não sou nenhum poço de maturidade, mas tenho percebido que algumas coisas estão mudando ultimamente. Quando fiz aniversário, o Romell sugeriu que eu escrevesse sobre como é ter os tão falados dezoito anos, e eu até comecei a fazer isso algumas vezes, mas nunca saiu do rascunho. Não sei se essas coisas que eu tenho percebido têm a ver com isso, talvez até tenham.

Enfim.

Na verdade, às vezes eu realmente sinto que a vida está passando por mim enquanto eu estou apenas sentada de braços cruzados. Estou num desses momentos de inércia agora. E, claro, a grande maioria desses momentos são caracterizados por uma apatia em relação à minha própria vida que é simplesmente um saco. Sabe quando você não tem perspectiva de nada? Não tem ânimo pra nada, e só deixa os dias passarem, um atrás do outro, pra ver o que acontece? Pois é.

Eu estou me deixando levar pela inércia agora, mas enquanto isso, diferentemente das outras vezes, estou pensando e pensando e pensando. Pensando no meu currículo, em como arranjar um emprego, em cartões de créditos e contas bancárias, em novos ônibus para pegar e pessoas para conhecer, e o fim do meu curso e o início de outros e tudo isso já é assustador o bastante.

Só que, além de tudo isso, o que realmente está fazendo esse momento ser diferente dos outros é que eu estou me sentindo diferente. Talvez não o suficiente para que os outros percebam isso externamente, mas mesmo assim, está lá. Essa coisa de pensar em mim. 

Me chamam de egoísta desde que me entendo por gente (qual é a url desse blog, afinal, hein?), mas, pensando bem, é o que menos tenho sido nesses últimos tempos. A diferença entre mim e as pessoas não-egoístas (se é que existem) talvez seja o fato de que basicamente ninguém percebe que eu me importo. Mas eu me importo, só que muitas vezes apenas se importar não é o bastante.

Estou saindo do foco. Calma aí.

Voltando, existe uma coisa muito importante que só tenho percebido agora: em algumas questões básicas, eu faço as minhas próprias leis. Eu decido o que é bom ou ruim pra mim, e eu sofro as conseqüências por isso. Fazendo uma analogia bem tosca, se eu não gosto de alface, ninguém pode me obrigar a comer alface alegando que faz bem. Eu não gosto, não me importo se faz bem ou não. Só não gosto.

Nossa, isso foi tão tosco que perdi totalmente a credibilidade, não foi? .___.

Enfim. Eu acho que estou começando a realmente fazer jus ao que me disseram uma (ou talvez duas, ou talvez mais) vez(es): que eu sou fiel demais a mim. Não lembro se a entonação do "demais" foi negativa, mas não tem importância agora. Tudo é relativo.

O que importa é que eu tenho pensado muito sobre isso. E eu espero que, dessa vez, pensar em mim em primeiro lugar não seja uma atitude egoísta no mau sentido.

2010-08-19

Meias palavras (sem um bom entendedor)

V
(I, II, III, IV)


Não é nada pessoal, mas você não suporta mais estar com ele. Na verdade, "não é nada pessoal" é apenas uma expressão que você usa para tentar não ofender, mas que não significa nada. Sempre é tudo pessoal, até demais. E as pessoas sempre se ofendem. Principalmente quando não têm motivos concretos pra isso.

Você pensa que está sendo dura demais, e que tudo acaba passando um dia. Só que esse bendito dia não chega nunca; todos os dias parecem ser sempre a cópia um do outro. As coisas não mudam e você sabe que está parada no mesmo lugar, exatamente do jeito que tinha decidido não estar. E, à noite, quando a boa e velha insônia senta ao seu lado e acende um cigarro, você tenta não cair em mais um abismo de auto-piedade. E o sol começa a nascer e você pensa "vamos começar de novo, agora vai dar certo", apenas para que, menos de doze horas depois, você fique pensando o que diabos tinha na sua cabeça para pensar que poderia dar certo.

Ele está lá, do seu lado, e você se sente um tanto culpada por achar ruim algo que começou tão bem. Mas você não pode evitar. Tédio, tédio, tédio. Nenhuma perspectiva. O loop infinito dos dias. E o pior é que ele continua ali, como se não estivesse percebendo nada. Na verdade, o pior mesmo é que isso não é uma possibilidade, mas um fato: ele realmente não percebe nada.

Você ouve na sua cabeça todas as pessoas e todos os momentos em que teve o seu egoísmo jogado na cara. Você acha que deve se sentir culpada por ser assim, e acaba se sentindo culpada por não se sentir culpada. Você queria ter um pouco mais de força de vontade, queria ter entendido melhor os sinais, queria ter ouvido o que os outros tinham a lhe dizer, queria ter simplesmente conseguido dizer "não" por vezes o suficiente para ser completamente entendida.

Você então começa a sentir que não vai acabar nunca, mas não é mais naquele sentido romântico e bonito. É mais uma sensação de que tem algo se enroscando em você e que não vai te deixar sair. Você pensa no que era a sua vida antes, e vê que já se acostumou com isso. O ser humano se adapta às piores situações, é o que dizem. Você se adaptou, mas não queria; como uma pessoa que de repente tem que morar num lugar muito mais frio do que antes. Você pensa sempre no que poderia não estar fazendo, no que poderia não estar tendo obrigação de fazer, pensa em como era a vida quando tudo não parecia ainda com uma obrigação que leva a um objetivo definido que agora você acha nojento. Talvez nojento seja uma palavra muito forte, ou talvez seja apenas você não querendo ofender de novo. Você pensa em como as coisas chegaram a esse ponto.

As pessoas olham para vocês e provavelmente também não percebem. Está tudo muito bem, visto de fora e, pensando bem, se você fechar os olhos e esperar acabar, até dá pra fingir que você também está achando tudo ótimo. E então você se dá conta do que acabou de pensar e o nojo se volta contra você, que está aí prostituindo seus sentimentos por alguns momentos de paz. Por alguns poucos e valiosos momentos em que ele não está lá. E você tem medo, afinal, de tudo isso.

E apesar de tudo isso, você ainda não quer magoar ninguém. Você só quer uma vida diferente. Se vai ser melhor ou pior, você não sabe, só quer que não seja sempre igual. Você está sempre esperando que ele milagrosamente se apaixone por uma outra pessoa, ou que fique com raiva o suficiente de você para não querer mais vê-la. Ou, na melhor da hipóteses, você só quer que vocês voltem a ser amigos, como nunca deveriam deixar de ter sido. Mas, é claro, não te parece que ele vá conseguir entender esse conceito de amizade em particular. Na verdade, o que parece é que ele nunca entende nada do que você diz. Não por burrice ou falta de vontade, mas simplesmente porque há um abismo entre vocês.

Ele, por exemplo, nunca vai entender o quanto te ofendeu, muito menos que isso não tem nada a ver com xingamentos explícitos. Ele nunca vai entender o que se quebrou, porque quebrou em você, e ele não pode sentir. Ele nunca vai entender que você nunca esqueceu não porque é vingativa e cruel, mas sim porque está irreversivelmente magoada. Ele nunca vai entender que outras pessoas não têm nada a ver com isso. Ele nunca vai entender que todo o problema é uma via de duas mãos, e que quando você diz "a culpa não é só sua" você não está tentando não ofender. Está apenas sendo sincera.

Mas, enfim, não tem conserto, mas você não acha que ele vá entender.

2010-08-08

A bridge of sighs

#23 - The last person you kissed

(primeiro, eu espero que tu não se sinta ofendido ou nada do tipo por eu estar postando a carta no blog. deve ter apenas umas trinta pessoas - ou menos - que lêem isso aqui com freqüência, e mesmo assim a grande maioria delas está cagando e andando pra ti, porque elas simplesmente não te conhecem. e com a minúscula parcela de pessoas que te conhecem tu também não precisa se preocupar, porque não tem nada aqui que te ridicularize ou alguma coisa assim. até porque, veja bem, como em todas as outras cartas, essa aqui, no fim das contas, fala mais de mim do que do destinatário (no sentido do que ela transmite, e não necessariamente do que está escrito), e todas as outras cartas foram/serão postadas aqui também, e não tem nada em ti que te faça diferente - pra melhor ou pior - dos outros destinatários para que eu tenha algum tipo de reserva especial com essa carta especificamente. e não, isso não foi um modo de tentar te diminuir nem nada assim.

segundo, no extremo oposto e só pra garantir, espero que tu também não fique ofendido com o fato de eu ter pensado que tu poderia se ofender. é apenas o procedimento padrão.

terceiro, especialmente hoje eu não estou tentando fazer piadinhas de propósito. se tiver alguma aí no meio de caminho, é puramente incidental, só o meu jeito de falar/escrever mesmo. pra quê que eu tô explicando isso? haha q.)

.x.

Então, né. Eu não quero me repetir muito - o que talvez se mostre inevitável -, então vou tentar pular os assuntos que a gente já falou em outras cartas e ocasiões.

Tu tem sido uma parte muito importante da minha vida nesse último ano e algns meses. Eu não passo o dia todo pensando em ti nem nada do tipo, porque simplesmente não sou de fazer essas coisas, mas tu entendeu.

Sabe do que eu sinto falta? Do começo. De quando ainda era tudo muito inocente, e não apenas nesse sentido que você está pensando agora. No começo as coisas sempre são muito legais, não é? A gente não percebe - não quer perceber, na verdade - os defeitos, e tudo sempre pode dar certo. Naqueles tempos dourados - que apesar de terem acontecido há apenas um ano e alguns meses, me parecem estar há séculos de distância - a gente até pode pensar que éramos pessoas diferentes das que somos agora, mas não éramos. Sempre fomos os mesmos, mas à medida que o tempo passa as coisas vão aparecendo.

Nós somos irreversivelmente incompatíveis em muitas coisas que, infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto de vista, só são percebidas com algum tempo de convivência. Por isso que aquele começo foi tão tranqüilo, e por isso que ele não pode voltar mais. Santa ignorância. E que merda a intimidade se torna, hein.

Eu acho que muitas vezes tu se pergunta por que diabos eu sou tão desconfiada. Como naquele disclaimer enorme lá no começo da carta, por exemplo. Mas é como eu disse, é o meu procedimento normal. Eu sempre penso que posso acabar ofendendo alguém com alguma coisa que não fiz por mal (sério, eu posso ser inocente assim, rs), e no teu caso isso é elevado à enésima potência, porque a gente tem uma falha de comunicação natural. Por isso que às vezes eu prefiro deixar tudo bem explicadinho e sem sombra de dúvida. E como nós também não somos exatamente pessoas ~delicadas~, muitas vezes uma conversa que poderia ser bem simples toma proporções absurdas.

Como eu te disse uma vez, tu já deve estar de saco cheio dessas minhas cartas que não são exatamente ~cartas de amor~. A maioria das cartas que eu te escrevi, que nem foram tantas, afinal, não são do tipo que a gente guarda com carinho no coração. Mas, convenhamos, em grande parte delas - senão todas - tu mereceu. O problema, se é que existe um, é que eu não escrevo nos momentos legais. E tu só me escreve nos momentos legais, me dizendo coisas bonitas que eu sempre vou achar que não mereço. Eu não sei se tu percebeu isso, mas eu não te dou nada em troca. Tu diz que me ama e o diabo a quatro, e o que eu dou em troca? Nada. Presença, no máximo. É por isso que eu sempre acho que não mereço.

Porque, sabe, eu fico agoniada de ver que tu realmente gosta de mim. Não vou dizer amar, porque a tua definição de amor é tua, e eu não vou mexer com ela. Eu fico agoniada principalmente porque sei que não posso retribuir isso, e então não quero que nada dependa disso. Não é uma questão de traumas ou de ser travada, ou qualquer coisa do tipo, não dá pra resumir tudo a isso. (sei que essa parte talvez te faça lembrar daquele episódio lá na parada de ônibus na semana passada, mas acredite, eu estou falando de coisas em geral e não daquilo) Se eu não fiz uma coisa, não é porque eu tive um trauma de infância/adolescência que me trava. Pode ser simplesmente porque eu não quis fazer. Porque eu não tive vontade. Porque não poderia fingir. Só isso.

Mas aí nós já estamos entrando nos assuntos de cartas anteriores, e vamos tentar manter essa inédita.

Eu passei muito tempo da minha curta vida orbitando uma pessoa só. Isso não é nada bom, sabe? Eu não quero que isso volte a acontecer, eu não quero viver a minha vida em função de outra pessoa. Isso soa bem egoísta e, bem... é mesmo. Eu sinto as coisas de um jeito bem extremista, mas com a mesma rapidez que o entusiasmo vem, ele vai. Tu fala muito de sair da rotina e fazer coisas novas e aventura, aventura e, bem... do meu jeitinho egoísta, é quase isso mesmo que eu sinto.

Mas, calma, eu não estou reclamando nem nada. Estou só falando mesmo. Ou melhor, estou escrevendo porque assim não seremos interrompidos por eventuais desentendimentos. E, bom, nem poderia ser uma reclamação, porque agora até que nós estamos muito bem, obrigada. Pelo menos eu tô achando, né. Não sei tu. Mas enfim.

Eu acho que tu não concorda inteiramente com o que eu vou falar agora, mas eu achei muito bom esse mês de férias que a gente teve. Não pelo óbvio descanso das coisas do CEFET, mas simplesmente pra gente passar uns bons vinte dias sem se ver. Entenda, não é por mal. É só que essa coisa de se ver todo dia não é comigo. Aliás, não exatamente se ver todo dia, porque tem um monte de gente que eu vejo todo dia - minha mãe, por exemplo, haha q -, mas o problema mesmo é ficar grudado, sabe? Não tô dizendo que tu é grudento, eu é que sou... a palavra que é o contrário de grudento. Até porque, de certa forma, passar o tempo todo do lado de uma pessoa só, é quase o mesmo que viver em função disso. Sei que tu pode pensar que "ah, mas são os únicos momentos que a gente têm juntos e tal", mas são suficientes pra mim. Desculpa, mas são até demais às vezes. Mas isso é só o jeito que eu penso e sinto, não é que eu esteja tentando de convencer a fazer o mesmo.

Eu gosto quando a gente tá junto, se divertindo, rindo, falando as coisas mais idiotas da face da terra e das quais nenhuma outra pessoa com mais de dois neurônios ri. Eu gostava quando tínhamos amigos em comum. Eu gostava quando a gente saía e conversava sobre os mesmos assuntos, ora sérios, ora não. Eu gostava do começo, resumindo.

Tu não deve estar acreditando muito nisso a essa altura da carta, mas não, eu ainda não estou reclamando de nada. Não é o meu objetivo hoje. Estou só falando a verdade, como eu tenho tentando fazer sempre de uns tempos pra cá. Só que, claro, a verdade nem sempre é uma coisa muito legal. E eu não tô te culpando exclusivamente por todas as coisas que deram errado - não foram poucas, né -, porque eu obviamente também tenho uma boa parcela nisso tudo.

Coisa que eu não costumo fazer é falar das coisas boas. Se bem que eu até falei, né, do começo e tal. Eu gosto principalmente quando somos amigos, acima de qualquer coisa. Sei que a tua "hierarquia de sentimentos" não põe a amizade em tão alta conta assim, mas é assim que eu sinto e ponto final. Eu não vou mudar, e gosto disso. Gosto quando a gente não tem obrigação nenhuma de gostar de estar um com o outro, de quando a gente fica junto porque os dois querem e não porque um vai ficar irritado se o outro não estiver ali.

Eu acho que deixei parte do meu romantismo em algum lugar do fim do ano passado. Mas é assim mesmo. Vamos levando. Deve ter alguma coisa - que pode ser tanto a tua persistência quanto a minha falta de firmeza. ou até mesmo os dois. eu não vou dizer que é ~amor~ porque, como eu disse, meu romantismo foi tirar férias e de lá não voltou - que nos faz continuar juntos. 

Eu dei uma pausa de meia-hora aqui e não sei mais como continuar. Que bom, porque eu acho que não teria terminado hoje. Enfim, acho que é isso. Qualquer coisa, tamos ae.

(p.s.: ainda bem que não temos aquelas viadagens de "desliga tu primeiro!". sério.)

2010-08-02

It's in the water, baby

24 — The person that gave you your favorite memory


Existem várias pessoas que me deram várias lembranças; das piores às melhores. Mas eu acho justo que, nesta carta em particular, eu fale de você, que não é uma pessoa, mas... bem.

Você é o mar. Que esteve presente em umas três (pelo que me lembro) das minhas lembranças mais bonitas. A primeira foi um passeio da escola, em que a turma subiu no farol antigo do Mucuripe - que agora é um museu. Eu odiei subir, porque era uma escada altíssima em espiral que tava me deixando tonta e enjoada, mas a gente subia um atrás do outro e não dava pra simplesmente parar de subir. Quando chegamos no topo, eu tive noção de quanto aquilo era alto, e a coisa só piorou. Acho que foi a partir daí que eu comecei a ter medo de lugares absurdamente altos. Lá era tão alto que o conteineres do porto já não pareciam tão grandes. Mas eu te vi de lá de cima de um jeito que nunca tinha visto antes.

A sua cor era um azul-esverdeado muito bonito. Muito mesmo. Não havia ninguém na praia, é claro, porque a gente estava bem ao lado do porto e também porque havia muitas pedras. Umas pedras enormes, marrom-escuras, bem assustadoras. E você era muito muito muito bonito, apesar de eu estar morrendo de medo daquele farol enorme.

As outras vezes foram quando eu fui à praia. O engraçado é que eu morro de medo até da piscina do CEFET, que é fundíssima mas certamente não chega nem a uma porcentagem mínima do que você é, mas eu não tenho tanto medo assim de ti. Na verdade, quando eu vou até você eu temo as ondas sim, temo que elas me levem para mais longe e mais fundo, mas eu vou assim mesmo. Sabe o que isso me lembra? O Hagrid brincando com o Norberto, hahaha. Você avança, puxa de volta, derruba, arrasta, mas eu estou lá, rindo que nem uma louca e sem querer sair de perto. 

Você, meu caro mar, é a coisa mais linda e assustadora da natureza. E me faz pensar no infinito. Deve ser por isso que eu gosto tanto de você.