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2012-12-27

And nobody felt sad as long as we could postpone tomorrow with more nostalgia

É no mínimo interessante perceber como dá pra medir a vida através da literatura. Do que você escreve e do que você lê. Do que você coloca e do que você tira disso. Da ficção em geral. Percebi um relance do que era, talvez, ser adulto quando percebi que minha relação com personagens adolescentes tinha mudado. Não que haja um bloco determinado de tempo com linhas bem definidas pelas quais você passa para ser considerado adulto; é só aquela sensação, agora já não mais tão estranha, de que há uma parte da vida à qual você não pertence mais. E que a vida já é grande o bastante para você conseguir olhar pra trás e ver as pessoas que você foi antes de chegar até aqui.

Esse talvez seja o primeiro momento da minha vida em que consigo enxergar essas coisas mais claramente. Talvez esse tenha sido o meu 2012, afinal; um ano de lucidez, e por isso a minha bio aí do lado agora faz tanto sentido. As coisas não melhoraram, e não digo isso pra fazer parecer que nada presta nessa vida, mas sim porque o que importa é que o modo como lido com elas mudou. Hoje eu posso dizer que conheço muito mais de mim do que conhecia antes; é engraçado perceber como também precisamos nos conhecer, assim como conhecemos outras pessoas. Nada vem sozinho. 

Outro dia um amigo me falou uma coisa que ficou na minha cabeça. Estávamos falando sobre um livro e ele disse que tudo que existia na vida dos personagens era passado. Eles olhavam pra trás e viam o passado. Olhavam pra frente e o passado continuava lá. Algo assim. E eu fiquei pensando: então é isso. Durante muito e muito tempo eu odiei o passado, mesmo quando ele fosse bom, porque odiava a pessoa que eu era no momento. E justamente por não suportar, eu não conseguia ver outra coisa. Eu olhava pra trás e tinha passado; olhava pra frente e ele continuava lá. Hoje eu consigo ver essas pessoas que eu odiava tanto e perceber que não sou mais nenhuma delas; embora tenha sido. O que eu sou agora, talvez seja melhor ou pior, mas ainda não tenho como saber. O que eu sei é que posso lidar com isso, e isso é tudo que importa. 

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) 
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. 
Semiergo-me enérgico, convencido, humano, (...) 

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). 
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. 
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.) 
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. 
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo 
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

2012-12-13

Uma verdade incoveniente

Eu passei muito tempo - provavelmente os últimos cinco ou seis anos - apressando algumas coisas e retardando outras na vida. O motivo é que eu tinha certeza que não estaria vivx a essa altura. Eu sei, soa meio ridículo falando assim, mas eu realmente tive essa certeza que me apavorava e não me deixava dormir por um bom tempo. É como viver com um prazo de validade - meio vago, mas ainda assim um prazo. Nunca pensei no que iria fazer a essa altura da vida, porque achei que não estaria mais aqui.

Só que, guess what, eu não morri. Ainda.

Isso me deixou numa posição meio esquisita. Veja bem, ninguém sabe se vai morrer amanhã ou daqui a cinquenta anos - a diferença é que antes eu tinha absoluta certeza de que a possibilidade dos cinquenta anos a mais não existia pra mim. Agora que existe como uma possibilidade, não sei o que fazer com ela. Não sei lidar com a  perspectiva de viver, how sad is that?

Não é que eu tenha me ~curado~ por completo, mas é como quando te dizem que o mundo vai acabar no ano tal e ele não acaba; você continua com medo que ele acabe, mas agora que passou a data que te deram, não está mais tão encanado com isso (supondo, a princípio, que você seja uma pessoa que se preocupa com o fim do mundo -q).

Mas essa não é a pior parte. A pior parte é que tudo aquilo para o qual eu caguei, tudo aquilo que reprimi ou simplesmente adiei pelo fato de que em breve não mais precisaria me preocupar (porque já teria virado um punhado de cinzas. não me enterrem pfvr) estourou com a intensidade mil sóis. Todas essas coisas resolveram fazer um motim e dançar por aí com plaquinhas de "quis ignorar? pois agora te fode aí".

Daora a vida.